domingo, 20 de março de 2011

TRÊS LUAS E UM MESMO CARA

          Três luas diferentes habitam, de pronto, a memória deste escrevinhador de meia idade. Bem, talvez seja a primeira vez que adoto esta estranha caracterização – Meia Idade. Mas, levando em conta que sigo determinado a chegar aos 100 anos, com a mesma lucidez de hoje e, se possível, com capacidade física semelhante, tenho que admitir, aos 52 anos, encontrar-me na flor da meia idade. Pois bem, para aferir essa capacidade mental, de que me arvoro, recorro às três luas, talvez não tão diferentes, do ponto de vista físico, mas bastante diversas, no que toca à minha memória.
          A memória, afinal, é dos equipamentos mais fundamentais para aquele que se pretende considerar em pleno gozo de suas faculdades mentais. Estranhamos muito quando alguém começa a se lembrar, em demasia, de eventos extremamente distantes, no tempo, esquecendo-se daqueles vividos há poucos instantes: É a demência chegando. Desse modo, regozijo-me de não lembrar daquelas belas luas que, um dia, banharam a pequena rua Vitório da Costa, no Humaitá, por volta do início dos anos de 1960. Nasci nesta rua, entre o sovaco do Cristo e a sombra do Mirante Dona Marta, no Rio de Janeiro e me lembro muito pouco dos belos dias que passei por lá. Deixo bem mais para adiante os posts nos quais escreverei sobre minha infância, no Humaitá, sem lembrar mais das três luas que ora relato.
          Por enquanto, tenho três luas para contar. A primeira delas, no quintal de uma casinha, num lugar chamado Seropédica, próximo à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, onde estudava Agronomia, no finalzinho da década de 1970. Hoje, Seropédica é um município, com vida própria. Mas, naquele tempo, não passava de um distrito de Itaguaí, que somente possuía uma rua principal pavimentada, com paralelepípedos – a famosa rua Sete – sendo todas as demais nada mais que estradinhas de terra, invariavelmente marcadas por valas que acompanhavam seu caminho, captando águas das chuvas e esgotos, sem conseguir levá-los muito longe, devido à planura do terreno. Aí pelos meus dezenove ou vinte anos, tocava, solitário, minha gaitinha de boca (Harmônica) para a lua, sonhando com todos os amores possíveis – os já vividos, os em pleno curso e aqueles outros, por viver, em outras luas, mais para frente.
          A segunda lua se deu pouco mais adiante, durante os anos de 1980, no mais profundo e ermo sertão do Mato Grosso, escondido nalgum lugar, entre os vales dos rios das Mortes e Araguaia. Cercado de cerrados e florestas, por todos os lados, caminhava sob a forte luz da lua, lendo cartas a mim enviadas, pelo amigo Paulo Raguenet. Encantava-me com o fato de poder lê-las, ao som monótono do pio do curiango, sem precisar contar com qualquer outra fonte de luz, que não fosse o brilho prateado da lua cheia. Não havia energia elétrica, por dezenas de quilômetros à minha volta, mas eu podia enxergar com perfeição, contando somente com aquele luar do sertão. Lembrava-me da música: “Não há, ó gente não, luar como esse do sertão...”
          Por fim, a terceira lua de que me lembro... Nada difícil, para quem não começou a se esquecer das memórias recentes: A lua da noite de 19 para 20 de março de 2011 – ontem – que iluminou os céus de Petrópolis, como não o fazia, segundo dizem, havia dezoito anos. Foi uma BIG MOON, um fenômeno astronômico, no qual a lua, mais próxima, nos lança luminosidade toda especial. Era quase dia, no meio da noite! Que bom poder revê-la e lembrar de luas antigas e luas recentes, com os amores que ela embalou e ainda embala. Ah! Ela ainda está lá, hoje à noite: There’s a moon, over Bourbon Street tonight..!


Essa lua linda passou aqui em cima, ontem, fazendo-me lembrar de outras luas de minha vida

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