sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A FLORESTA RECUPERADA DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO


Bromélia ambientada na floresta do JARDIM FITOGEOGRÁFICO

Numa das primeiras postagens desta série sobre as plantas do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, falamos ligeiramente sobre o projeto da FLORESTA RECUPERADA (http://orlandograeff.blogspot.com.br/2016/09/quesnelia-arvensis-bromelia-da-floresta.html ), contando que, em 2007, quando começamos a ocupara o terreno, pouco mais ali havia que restos de uma pastagem abandonada, na qual cresciam, aqui e ali, algumas arvoretas espontâneas. Apenas uma grande árvore, vestígio da mata nativa que ali deve ter um dia existido, podia ser observada no local: uma frondosa bicuíba (Virola bicuhyba – família Myristicaceae), bastante danificada, que servia de esconderijo às abelhas e prometia despencar, em pouco tempo.

A partir de 2008, efetuamos um trabalho intenso de recuperação da floresta, pondo em prática tudo o que havíamos aprendido, em muitos anos de reflorestamentos e recuperações de áreas degradadas, na Região Serrana Fluminense e Serra do Mar. O plantio de espécies nativas, acompanhado de rigorosa fertilização e correção do solo, reintroduziu espécies pioneiras, que cuidaram rapidamente de fechar o dossel da mata, restabelecendo condições adequadas, similares às das florestas nativas da região.

O trabalho com as árvores ainda segue seu curso e deverá durar muitos anos, enquanto se identificam espaços ecológicos apropriados às árvores mais nobres, que possuem crescimento mais lento e são muito mais exigentes que as pioneiras, em termos de adaptação. Algumas dessas espécies nobres, que chamamos de “definitivas”, em nossos projetos de recuperação de áreas degradadas (PRADs), dos anos 1990/2000, não conseguem ressurgir na natureza, enquanto não se fecha o coberto florestal, do qual dependem quando jovens, antes que venham a aflorar e ocupar o estrato dominante.
Outras tantas espécies nativas são estritamente adaptadas ao ambiente de sob as copas das árvores maiores, sendo-lhes impossível ressurgir sozinhas, sem que a mata esteja fechada, acima. Essas arvoretas, muitas delas palmeiras delicadas, são chamadas esciófilas, termo que significa a mesma coisa que umbrófilas, ou seja, que gostam da sombra.

O pouco que falamos acima,  por si só, explica o termo que adotamos, para caracterizar nosso projeto, no qual abrigamos nossa coleção botânica – JARDIM FITOGEOGRÁFICO. A FITOGEOGRAFIA, ramo da ciência botânica que abraçamos e que nos levou a editar o livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL – UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015 – ver postagem http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/o-livro-fitogeografia-do-brasil-uma.html ), trata das vegetações e de sua distribuição geográfica. As observações das plantas, como afirmava Carlos Toledo Rizzini, um dos maiores nomes desta ciência, são imprescindíveis ao fitogeógrafo. Mas, em nosso caso, resolvemos transcender a mera observação individual das plantas e nos atirar de cheio na ecologia delas, o que não deixa de ir ao encontro dos postulados metodológicos de Rizzini.

Assim, trabalhar com o projeto do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, não apenas na floresta recuperada, mas igualmente nos jardins de campos e restingas, situados na parte mais ensolarada da coleção, ajudou e ainda ajuda bastante a conhecer os processos envolvidos na associação entre plantas, para formar vegetações. Evidentemente, a tônica deste projeto são as plantas epífitas (que vegetam agarradas às árvores), assim como outras espécies que dependem do ambiente formado pelas vegetações tropicais para crescer. São principalmente: orquídeas, bromélias, filodendros, antúrios e outras joias que deliciam os horticultores.

Centenas de espécies dessas plantas, provenientes das mais diversas partes do Brasil, nativas de florestas as mais variadas, ocupam os ambientes proporcionados pelas árvores da floresta recuperada do JARDIM FITOGEOGRÁFICO. Se considerarmos o número de exemplares, então, essas plantinhas se contam aos milhares, neste parque criado por nós. Mais de 300m de caminhos foram projetados e executados, em meio a esta floresta, proporcionando acesso fácil a cada ambiente.

O status absolutamente degradado que encontramos, tanto quanto a distância considerável de nossa floresta para os fragmentos de matas nativas existentes ao redor, autorizou-nos a trabalhar com mais liberdade, no tocante à manutenção de espécies estranhas à flora local. Não haveria qualquer perigo de invasões ao ecossistema nativo, coisa que, aliás, teremos chances de comentar, em novas postagens, mostrando ser praticamente impossível que algo assim ocorra, em florestas tropicais bem conservadas, dado não contarem com a mesma capacidade da flora autóctone para competir pelos recursos, polinizadores, dispersores e condições microclimáticas. Além do macroclima, em si, que é soberano na potencialização dessas supostas invasões.


Resumindo: a FLORESTA RECUPERADA é um jardim. Um jardim silvestre, é fato, mas ainda assim representa um experimento intensamente manejado por nós, que mantemos o controle das condições horticulturais que permitem a inúmeras dessas plantas sobreviver em nossa região. Então, se falamos de um jardim, nada mais convidativo que visitá-lo, nas imagens a seguir, produzidas HOJE, aqui na floresta recuperada do JARDIM FITOGEOGRÁFICO. Bom passeio.





















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